quinta-feira, 17 de maio de 2012

Lei do DJ do Buzu. Vai funcionar?

Bagunçada, suja, desorganizada, problemática, insegura. Você já deve ter ouvido esses adjetivos referindo-se à cidade de Salvador. No entanto, no meio de tudo, existem espaços para novas leis que buscam ordenar a primeira capital do Brasil. Nesta quinta-feira, o prefeito João Henrique (PP) sancionou a lei que combate a poluição sonora dentro dos ônibus, também conhecida como Lei do DJ do Buzu.
No final de março, a proposta tinha sido aprovada por unanimidade na Câmara de Vereadores e seguiu para aprovação do prefeito, que foi realizada nesta quinta. O que a legislação propõe é que a Sucom fiscalize o comportamento das pessoas que costumam ouvir músicas dentro dos ônibus em alto volume, as vezes até em caixas amplificadoras.
Foto: Correio 24 horas

Eu, passageiro do transporte coletivo que sou, já fui obrigado a compartilhar o mesmo ônibus com adeptos deste hábito. Cá para nós, o que faz uma pessoa ouvir música na maior altura, em alto falante, dentro de um lugar onde o próprio nome diz ser "coletivo"? A primeira ideia que vem na cabeça é que trata-se de um "espírito de porco", só pode ser... E aqui faço uma ressalva que o incômodo independe do estilo musical. Seja pagode, MPB, arrocha, forró, rock ou gospel, ninguém é obrigado a querer ouvir a música alheia.
Confesso que não sou capaz de analisar, muito menos de definir tal comportamento. As vezes me questiono se isso só existe em Salvador ou é comum também em outros lugares? E não me venha comparar com o rappers americanos, que ouvem música nas calçadas do seu país. Nestes casos, trata-se de uma tradição cultural, uma tribo com hábitos específicos. Parecidos, para não dizer que privilegio as coisas de fora da Bahia, com os carrinhos de café em forma de trios elétricos, muito comuns em Salvador. Esses tem uma explicação, uma força cultural. O DJ do Buzu, realmente, não faz o menor sentido. É o incomodar pelo incomodar. É a tentativa de se aparecer em uma sociedade que insiste em tornar as pessoas invisíveis. Mas, definitivamente, esta não é a melhor opção.
Tá. Lei aprovada, sancionada pelo Poder Executivo. E agora? Vamos esperar mesmo a Sucom fiscalizar isso? Dá mesmo pra fiscalizar? Na verdade, o que precisa ficar público é também a regulamentação da lei, como ela vai ser cumprida, quais as punições previstas. Só aprovar não modifica o comportamento social e, logo, não melhora as condições de vida da sociedade.
Minha sugestão é que todos nós passemos a ser fiscais da nova lei. Mas quem vai querer chamar a atenção do cara com o som ligado, correndo o risco de ser ameaçado ou violentado? Pois é, aplicar esta lei vai ser complicado e isso precisa ficar claro. As notícias não podem ser resumidas na aprovação da lei. O jornalismo precisa ser mais crítico e passar a questionar a aplicação, a forma como a nova legislação vai ser conduzida pelo poder público e pela sociedade. Vamos ver no que vai dar e torcer para não ser mais uma legislação que fique somente nos papéis e discursos políticos.

O clipe abaixo, disponível no Youtube, brinca com o comportamento que agora vai ser fiscalizado com a nova lei.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

O sentimento. O diferente. A perspectiva.

E eu que já achei, ainda na infância, que nunca iria gostar de alguém mais do que gostava de mim. Na mente inocente de uma criança, seria uma falta de ponderação chamar este sentimento de egoísmo. Não, na verdade, devemos observar pela perspectiva de uma autoafirmação, ou como uma tentativa de se proteger das pessoas com as quais os relacionamentos ainda estavam por vir.
Depois de varar madrugadas, como diria Marisa Monte, logicamente que as minhas percepções foram lapidadas. Não tenho barreiras em afirmar que eu posso, em etapas definidas, expressar por uma pessoa sentimentos próximos dos que tenho por mim, nunca maiores. Por quase uma licença poética, tiremos deste contexto o meu núcleo familiar, ao qual talvez dedique mais amor do que a mim mesmo, com o perdão da redundância.

Eu sou bem novinho, de verdade. Não me canso de sempre fazer essa ressalva. Isso porque as vezes o até eu esqueço que estou só no começo, no início das vivências dos sentimentos. Mesmo assim, estou convicto de que vale a pena ser pleno, se entregar ao que você acredita, sente, compartilha. Entre os comedidos e os exagerados, prefiro os que deixam tudo muito claro, que pecam por excesso. Talvez a experiência mais marcante da minha vida tenha sido compartilhada com um pensamento distante do meu, ou, pelo menos, um comportamento diferente - o que não quer dizer, de maneira alguma, oposto.
Como sempre ocorre quando lidamos com o diferente, aprendi muito. Aprendi mais do que ensinei, inclusive. E onde eu quero chegar com todas essas palavras cobertas, cheias de eufemismo e armadilhas para quem as lê? Não sei. Nem preciso saber. A transformação de pensamentos em palavras sempre me enobrece, me satisfaz quase que plenamente. O pleno virá quando eles se tornarem vivência, enredo da minha própria história.
Não mais como uma criança derramando pensamentos egoístas, o recém adulto contemporâneo dedica seu tempo agora para aprender a lidar com o "abrir mão". Assunto tão difícil para mim que sequer consigo transformá-lo em texto, apesar da vontade ser crescente. Mas, para não me alongar, deixemos este para depois. Afinal, ainda há tempo. Muito tempo...

sábado, 12 de maio de 2012

À minha mãe, eterno amor

Setembro de 1989. Foi neste período que Socorrinho, mãe de um adolescente e uma criança, perdeu seu marido, vítima de um infarto fulminante. No meio de tanta dor, tendo que acalmar dois filhos que não conseguiam entender a morte do pai, ela mantinha forças para me levar em seu ventre. Sete meses depois, em abril de 1990, surge, então, a minha mãe. Ou seja, ela se torna mãe também para mim.
Neste contexto conturbado, minha mãe me cobriu com seu manto o tempo inteiro, preservando-me de qualquer dor ou sofrimento em excesso. Como ela mesmo conta, aprendi a lidar com a morte do meu pai através da história do filme Rei Leão, no qual o filhote, Simba, perde o seu pai, o rei Murfasa, tragicamente em uma amardilha. Haveria uma forma mais amorosa de me apresentar à dor? Certamente, não. O que era para ser sofrimento, logo, foi completamente suprimido por uma onda de amor incompreensível.

Voltando até onde a minha memória permite, posso afirmar o quanto as atitudes, ações e decisões de minha mãe foram essenciais para a formação do meu caráter. Curiosamente, não me recordo de chamá-la de "mãe", "mamãe" ou "mainha". A nomenclatura, quase egoísta, sempre foi minha mãe. Um método diário e repetitivo de reafirmar o orgulho e o prazer de tê-la como meu milagre, minha proteção.
Quando o filho adolescente cresceu e precisou sair de casa, ela de novo suprimiu qualquer sofrimento com doses homeopáticas de amor. Na minha vinda para Salvador, em janeiro de 2005, não houve despedidas chorosas, nem festas familiares hiperbólicas. Não. O que houve, como é de praxe conosco, foi um voto de confiança, fé e certeza de que a decisão era pretensiosa e válida. Sempre, incondicionalmente, ela esteve do meu lado.
Em meio a tanto sorrisos e gargalhadas, afirmo com toda convicção que minha mãe é a pessoa que mais me fez chorar nestes curtos 22 anos da minha história. Poucas vezes por tristezas, incontáveis vezes por emoção. Ler o que ela escreve, ouvir o que ela expõe ou simplesmente reativá-la em minha memória. Seja o que for, me emociona. E quando eu mais merecia broncas, lições de moral? Ela me apresentou o colo e o melhor remédio: o amor de mãe. E quando eu reclamei que não tinha carro, dinheiro suficiente e que meus amigos ganhavam mais de suas respectivas mães? Ela silenciou e deixou que o tempo me evidenciasse que caráter, honradez, conhecimento, educação e berço nunca me faltaram e foi a minha mãe quem me proporcionou tudo isso.
Por fim, e nunca menos importante, foi ela também quem desde o meu nascimento me apresentou a Deus e ao seu filho Jesus Cristo. Recordo-me com precisão que demorei a falar "eu te amo", fazendo isso com lucidez pela primeira vez aos 15, 16 anos... De lá para cá, felizmente, perdi as contas. Afinal, como não amá-la? Como não me emocionar escrevendo essas palavras? Como não dizer: Eu amo muito a senhora, minha mãe. E se você diz pouco isso à sua, mude! Faça logo, porque este arrependimento é incomparável.
Como qualquer filho, meu pedido neste Dia das Mães é para que a nossa relação se torne ainda mais afetuosa, que possamos compreender um ao outro, diante do enorme abismo temporal e de gerações que convivemos. Feliz Dia das Mães, minha mãe. Mais do que mãe, você para mim é Porto Seguro, é pai, é dedicação, é orgulho, dignidade e caráter. Para mim, você é a tradução perfeito do que é o amor.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Soleil: um sonho com os olhos abertos

No mundo tão atual, alucinante e contemporâneo é até um clichê dizer que temos pouco tempo para pensar, refletir e fugir das nossas realidades. Seria ainda mais ilógico se aqui eu propusesse que nos déssemos a oportunidade de sonhar com os olhos abertos... É possível? Depois da experiência que vivi nesta semana, não tenho dúvidas em afirmar que sim.
O Cirque du Soleil é um sonho, um mundo de fantasias que desce sobre a Terra e permite que crianças, jovens e adultos consigam sonhar acordados, ultrapassar o limite da felicidade. Para mim, entrar naquele lugar foi a realização de um objetivo que ainda parecia distante e se tornou ainda mais pleno pela companhia  singular da minha amada mãe.
Faltavam alguns minutos para o início do espetáculo, quando entramos e fomos conhecer um pouco da história do Cirque e da apresentação que está em cartaz em Salvador - Varekai. Trata-se da história de um jovem que voava para alcançar o Sol e, de repente, cai e é recebido no mundo Varekai, onde a fantasia encanta e cativa qualquer ser. Voltando a falar sobre a "realidade" do Cirque, são vários espaços, com souvenirs de todos os tipos e formas, praça de alimentação, cartazes para fotos e, finalmente, o palco principal, que não tem a menor condição de ser chamado de picadeiro.
Mais do que um espetáculo circense, Varekai é a reunião de circo, teatro, música e dança. Toda a apresentação é regida musicalmente por uma banda, que toca e canta as músicas ao vivo. O figurino e a maquiagem dispensam qualquer comentário. As roupas e os desenhos nos rostos dos atores são feitos com a riqueza de detalhes que não deixa nenhuma dúvida de que toda aquela fantasia é verdadeira, desde que se compre a ideia de que estamos sonhando. E não há quem não compre.

Os números de malabarismo e equilíbrio desafiam as leis da física, fazem os presentes fecharem os olhos e gritarem como se não estivessem acreditando no que observam. Soleil é um lugar em que os profissionais não deixam a menor dúvida que amam sua profissão, quase como um sacerdócio. Soleil é um lugar para apaixonados. Soleil, como disse uma das funcionárias temporárias em uma entrevista à TV Bahia, é perfeito porque sonhos são perfeitos e trata-se, sem dúvidas, de um grande sonho.

Não poderia deixar de dizer que assistir a tudo isso acompanhado de minha mãe foi um presente de Deus que a vida me reservou. Entrar com ela no Cirque e ver os seus olhos brilharem de emoção foi algo que jamais sairá da minha memória. Nunca tinha vivido a sensação de ver a minha mãe mãe virar criança por alguns minutos, sorrindo sem pensar em futuro, vivendo o sonho de também ser parte de um espetáculo.  Sem dúvidas, o Cirque du Soleil me surpreendeu em todos os sentidos.

Abaixo, algumas cenas do espetáculo Varekai, do Cirque du Soleil:


terça-feira, 1 de maio de 2012

Por que essa orla, Salvador?

Não precisa ser arquiteto ou urbanista para saber que a orla de Salvador é mal aproveitada. Esta convicção torna-se ainda mais saliente quando conhecemos orlas de cidades menores, com população e arrecadação de impostos inferiores à nossa. Sem pretensão de fazer qualquer crítica simplista, ou intuito de desfazer a cidade em que moro, devo dizer que neste final de semana que passei em Aracaju, a pergunta que me fiz em diversos momentos foi "Por que essa orla, Salvador"?
A Bahia tem o maior litoral do Brasil. Salvador é a terceira capital do país em população, com quase 2,7 milhões de habitantes. No entanto, a extensa orla de Salvador, sendo gentil, tem pouquíssimos pontos movimentados durante a noite, por razões difíceis de entender. Em uma rápida ponte-aérea para a capital sergipana ou alagoana, o soteropolitano pode ver praias cheias durante a noite, com movimentações comerciais, práticas esportivas, muita luz e bares que ficam localizados verdadeiramente na orla e ajudam a manter as praias movimentadas (na foto ao lado, pequeno trem movimenta orla de Aracaju durante a noite).
As orlas tem naturalmente a característica de serem locais democráticos, nos quais as pessoas podem se divertir ou descansar sem precisar gastar muito dinheiro. Em Maceió ou Aracaju, não é raro avistar casais tomando um vinho ou simplesmente vendo o anoitecer nas praias. Em Salvador, nem mesmo nos locais turísticos isso é possível. Falta mais do que segurança, falta movimentação. A população não participa da vida na orla, não tem atrativos para isso. Nem mesmo a Barra, parte mais movimentada da cidade alta, tem uma orla tão movimentada durante a noite. Na cidade baixa, em alguns pontos como na Ribeira, há uma maior participação das pessoas nas praias durante a noite. Por que essa orla, Salvador? Por que estamos tão distantes de capitais próximas e menores? Não é por acaso. Interesses econômicos e políticos fazem a orla de Salvador ser como é. Ou falta interesse? Com a palavra, o eleitor. Afinal, em 2012 tem eleição.