quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um mutirão animador

Quando fiz jornalismo, meu sonho era poder trabalhar ouvindo e contando histórias, tornando público fatos que fazem parte da vivência humana, escancarando a sociedade com sorrisos e feridas. Na terça-feira (17) da semana passada, tive o prazer imensurável de passar toda a tarde no Fórum de Salvador, fazendo a cobertura do Mutirão Pai Presente, projeto do Tribunal de Justiça da Bahia que busca fazer audiências de conciliação, exames de DNA e reconhecimentos dos filhos pelos pais que ainda não tiveram esta oportunidade. Mais do que uma atividade jornalística ou ofício, foi uma aula de vida.
Dentro das salas da Justiça baiana, pude ver de perto histórias reais, de pessoas diferentes, cada um com a sua individualidade. Eram Joãos, Pedros, Marias, Martas... Gente de todos os lugares de Salvador, acompanhados dos seus filhos, participando de audiências e recebendo resultados exames de DNA. Ao jornalista, é reservado o privilégio de estar presente e a chance de transformar aquelas narrativas em reportagens. Foi o que tentei fazer, segurando a emoção e focando em buscar o que, entre todos os discursos, mais interessava ao público.
Entre as histórias, estavam pais que reconheciam a filha com pouco meses de idade, outros que tiveram a notícia de que 'aquele garoto' não era do seu sangue, depois de acreditar nisso por muitos anos. No jogo de argumentos de supostos pais e mães, não há como saber quem está falando a verdade. Vi caso em que as mães tinham suas falas confirmadas pelo DNA e outros em que os supostos pais não tinham um gene sequer do filho. Tinha de tudo. E o melhor, tudo verdade. Histórias reais. Jornalismo na veia!
O Mutirão tem como objetivo dar dignidade aos herdeiros, para que possam ao menos ter o sobrenome da mãe e do pai nos seus documentos. Uma das mães que ouvi, relatou que não tinha o sobrenome do pai em seu registro de nascimento, mas que não queria que o mesmo ocorresse com sua filha. Graças ao projeto, ela viu sua filha receber mais um sobrenome, que veio acompanhado de um beijo do pai. Um outro homem, que foi sozinho buscar o resultado do exame de DNA, confirmou que a criança não era sua filha - de certa forma, um alívio. Até um senhor, aparentando ter seus 70 anos, roubou a cena. Ele foi ao Tribunal e reconheceu quatro filhos de uma só vez. Detalhe: "No total, tenho doze", disse.
Ver que o meu sonho, que citei lá no início do texto, é possível e, acima de tudo, animador, me deixa extremamente feliz e esperançoso. A profissão é capaz de tornar o homem mais digno, ainda mais quando ela vem repleta de dedicação, o sentimento mais nobre de todos. Passar esta tarde no fórum produzindo esta matéria foi fundamental para, diante de tantas dúvidas, reafirmar o meu casamento com o jornalismo - a arte de contar boas histórias.

Vejam a matéria que foi publicada no Jornal da Manhã
http://g1.globo.com/videos/bahia/t/jornal-da-manha/v/tribunal-de-justica-realiza-mutiroes-de-reconhecimento-de-paternidade-na-bahia/1908726/

2 comentários:

  1. Interessante perceber como as coisas mudaram, como valores estão sendo perdidos, outros tentando ser resgatados. O projeto é bem bacana sim, mas não deveríamos necessitar de um recurso como este para promover tal iniciativa.

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  2. Concordo com o anônimo quando ele escreve que no mundo ideal não precisaríamos de um mutirão para que os pais registrassem seus filhos. No entanto, no mundo real, que sofre com o esvaziamento do caráter humano, reitero a riqueza da iniciativa, capaz de modificar realidades! Valeu pelo comentário. Só estou fazendo uma ponderação para suscitar ainda mais discussões. Afinal, a internet é o espaço próprio para isso.

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